Voluntários contribuem para a educação

08:17 Edit This 0 Comments »

Por Flávia Passos Leite.

"Aprender alguma coisa a mais para dar o que eu nunca tive na vida aos meus filhos". Este é o sonho de Edmilson Santos Lima, 40 anos, pai de 4 crianças, que participa do projeto de alfabetização para adultos, oferecido pela Associação Brasileira do Encontro Social VaiVem (AVV), em Lauro de Freitas.

Moradores do Condomínio Parque Encontro das Águas viram no trabalho voluntário a oportunidade de compartilhar aquilo que receberam: educação. "Nós precisávamos ajudar as comunidades que tinham mais dificuldades ao nosso redor", explica Dinara Cavalcanti, integrante da organização, fundada há três anos.

Cada um utiliza seu conhecimento para atingir o objetivo principal. Assim, são oferecidos cursos de matemática, alfabetização para adultos, jardinagem e inglês básico voltado para hotelaria e turismo. Dinara Cavalcanti, formada em Filosofia com Letras Germânicas pela Universidade Federal de Pernambuco e professora há 49 anos, é quem ministra as aulas de inglês, fornecendo um certificado de participação.

Pensando na vocação turística do estado da Bahia, a professora ensina a todos os interessados em exercer uma função nesta área. Ela acredita que esse público, tendo noção de um outro idioma, poderá conseguir um emprego melhor. Lílian Silva dos Santos, 22 anos, está convencida de que o curso "é uma excelente iniciativa, que traz em si uma lição de solidariedade e mútuo aprendizado para professores e alunos", afirma Lílian. Ela e mais 11 alunos formaram-se pela AVV em agosto deste ano.

Tereza Dias, professora de música, propôs o nome VaiVem, termo que sugere intercâmbio. Em 2006, ela deu início ao curso de expressão oral, leitura e escrita para funcionários do Encontro das Águas. "Houve os que se apresentaram e se comportaram como quem não sabe o que quer. Outros faziam gracejo para fazer rir os seus pares, uns se mantinham tímidos, desconfiados, como quem quer pescar, mas lhes falta a isca", afirma Tereza.

Edmilson Santos, funcionário do Encontro das Águas, é aluno do curso desde o princípio e afirma que é difícil participar ativamente. "Muitas vezes, as pessoas chegam cansadas do trabalho e não conseguem fazer o que têm vontade, que é estudar mais e mais". Apesar da rotina diária, o estudante e mais um colega têm se esforçado e mostrado resultados. "Estes, sim, podem assinar a folha de pagamento, sabendo o que fazem, com uma caligrafia de fazer inveja", afirma Tereza. A turma, que começou com 15 candidatos, diminuiu em freqüência no segundo semestre de 2007.

Professora Tereza Dias e o aluno Edimilson Santos.

O maior empecilho em conseguir mais alunos para o curso é a vergonha. "Sempre procurei incentivar alguns amigos, mas, por vergonha, eles acham que estarão se humilhando. Assim, perdem a oportunidade de aprender algo a mais", conclui Edmilson, afirmando que não só está aprendendo a ler e escrever como também a respeitar os colegas e a se fazer respeitado. Atualmente, ele é quem está coordenando o trabalho em seu grupo no condomínio. "Esse aprendizado que eu vim ter com dona Tereza, eu acho que já abriu essa oportunidade para eu mostrar minha capacidade", diz Edmilson.

Todas as aulas oferecidas pela AVV são gratuitas e beneficiam adultos, moradores do bairro de Portão e região. O material didático é comprado ou confeccionado pelos membros da organização e emprestado aos alunos que, ao final do período de estudos, devem devolvê-los para serem utilizados pelas próximas turmas.

A instituição ainda não possui uma sede própria nem o estatuto aprovado, porém, a maior dificuldade é encontrar voluntários. Atualmente, apenas cinco pessoas abraçaram a causa. "É incrível, porque o Encontro das Águas possui 350 lotes habitados", diz Dinara, afirmando que sempre são enviadas circulares e as pessoas querem ajudar, mas é difícil conseguir com que participem ativamente.

A associação não possui parceiros. Ela recebe contribuições dos próprios moradores. A exemplo, uma publicitária que fez a marca. O Encontro das Águas também ajuda. Nele são feitas as impressões das circulares que são enviadas aos moradores, além de faixas avisando sobre algum evento. Para arrecadar recursos, dois bazares são realizados dentro do condomínio: no Natal e no Dia das Mães. Para participar é cobrada a taxa de R$20,00, que é revertida para a VaiVem.

A AVV também é responsável por recolher doações e levá-las à pessoas que precisam. Os livros recebidos são encaminhados às bibliotecas da comunidade. "Esses livros nós não doamos, cedemos, porque nosso objetivo é ter uma sede, como se fosse um centro cultural com uma biblioteca. Então, depois, os buscaremos", explica Dinara Cavalcanti.